sexta-feira, 9 de maio de 2008

A beleza de algumas coisas consiste no facto elas acontecerem quando não estamos à espera.

domingo, 4 de maio de 2008

Intuição

Admito, houve um periodo em que não te deixei em paz. Revestida das vozes e dos pressentimentos enchi a tua alma. Tornaste-te como um alcoólico ou narcômano, que não descsansa a não ser que satisfeite o seu vício. Tiveste de seguir a minha voz, andando à procura da paz. Só depois de teres cumprido o que eu te pedi, deixei-te descansar. Por algum tempo.

Acordaste logo e abriste os olhos numa realidade diferente daquela que estavas à espera. E agora estás a chorar enquanto eu te estou a explicar. Fizeste tudo, és um guerreiro, que não se rende nunca, deves é estar orgulhoso. No entanto, tu não me queres escutar. Respondes que não fizeste nada, que não podias fazer nada porque não houve nada para fazer. Gritas que combates até ao fim para venceres, em vez de perceberes que nao tinhas razão por isso. E por fim, me estás a desafiar, queres que admite o meu erro. Porque te fiz perder tudo o que tinhas, ou seja o teu sonho. Pois, por muito doloroso que seja o teu encontro com a realidade, é tarde demais para afogares num mundo que não existe.

Sinceramente, não tenho remorsos. Mesmo que me odéies e digas que nunca mais terás confiança em mim. Que nunca me esquecerás isso e que te vingarás. Podes-me dizer tudo o que quiseres, não me importa. Eu estou calma, desabafa -te. Podes dizer e fazer tudo o que quiseres desde que te encontres acordada. Sou eu que preciso de descansar um bocado agora, que daqui a nada me adormeces de novo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Asilo


Dois pombos a descansarem do lado posterior da igreja.

terça-feira, 8 de abril de 2008

rain

message from a friend: "this rain and cold gets me down"
I feel down too, but it is rain or sth else
It is raindrops that wash away traces of a man's walk or
it is teardrops that wash away last traces of hope

Purification.

when the sun comes out
calçadas will appear clean
I will appear empty

Indifference.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Caminhos de pensamento duma pessoa "ingénua"

Eu sou boa contigo, por isso tu és bom comigo.
Eu não te faço mal, por isso tu não me fazes mal.
Eu sou sincera contigo, por isso tu também és sincero comigo.
Eu lembro-me das tuas promessas, se não cumpriste foi porque não podias, por isso espero pacientemente, pois és alguém de palavra. Tu também compreendes que, dentro das circunstâncias, não posso cumprir tudo o que te prometi.
Portanto; não me digas que o mundo é injusto, que algumas pessoas são más, que tenho de estar com pés na terra. Por mais que eu sofra, eu não consigo acreditar no que dizes. Em vez disso, acredito que o mal que fazemos volta sempre a nos. A vida me fará pagar todo o mal que te faço, enquanto a ti, a vida te fará pagar todo o mal que me fazes. É a melhor maneira de vingarmo -nos.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Crime e castigo

Ninguém te pergunta opinião antes de te fazer mal. É uma pena... imagina. Tens oportunidade de te pronunciares. 1 minuto, 5 minutos, uma frase, cinco frases, uma palavra, silêncio. O acusado perante o juiz, a vítima perante o carrasco, e então, o que fazes ? Estabeleces um contacto, diriges-te ao teu adversário e falas, explicas, gritas. Ou ao contrário, baixas os olhos e ficas em silêncio, assumindo o veredicto. No entanto, nem sempre deve correr deste modo. Pode acontecer que, embora queiras dizer algo, não o consegues fazer, por muito que te esforces. Cada sonha com isso: quer fugir de um agressor, mas não consegue correr, quer pedir ajuda, mas não consegue gritar. É deste modo que se condena a si próprio.

A vida não consiste somente nas injustiças que recebemos, nós também as fazemos subir ao outrem. E deste lado é diferente. Ser um juiz é um desafio. Explicar que na verdade não temos más intenções, ou ao menos não nos apercebemos disso. A vida é injusta e cada tem de sofrer de vez em quando. Ser um juiz é uma tarefa mesmo difícil, porque consiste na capacidade de se manter indiferente perante o olhar triste e surpreendido da vitima que acaba de receber um tiro nas costas. Felizmente não demora muito em cair no chão

Prezado Juiz, peço o castigo mínimo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Retrato da guerra

O quadro não era interessante, nem pertencia a nenhuma escola italiana ou flamenga. Era a natureza morta, um ramo de girassóis ou crisântemos amarelos no vaso. As cores escuras presas nas molduras de cor de cobre. A maneira de pôr a tinta na tela fez-me lembrar a pintura de Vincent van Gogh e foi a única coisa desse quadro que, à primeira vista, podia associar com o meu próprio sentido da “pintura”. Uma mal feita e mal conseguida imitação de van Gogh. Não gostei nada do quadro. A minha mãe mostrou-mo com certa gravidade, até pensei que com a vergonha, como se se tratasse dum sujo segredo. “Quando a tua avó e bisavó chegaram a nova casa, encontraram o quadro...” - quase murmurou. Eu sabia que elas não tinham trazido quadros. Disseram-lhes de levar apenas o essencial, sem perguntarem a opinião delas. Os habitantes daquela casa, os proprietários do quadro também tiveram de levar apenas o essencial. Talvez não tivessem tido muito tempo. Alguém bateu na porta ou até a forçou, entrou na casa e lhes mandou de sair. Foi então que me imaginei o medo e a pressa. “...encontraram o quadro embrulhado no sótão “ - os murmúrios da mãe chegaram aos meus ouvidos. As minhas avós encontraram esse quadro tão miserável, sem valor nenhum, embrulhado! Tinha de ser algo valioso, visto que, não obstante o medo e a pressa, houve alguém que o tentasse preservar. Embrulhou-o e escondeu no sótão. Com certeza lhe disseram que podia voltar em breve, para eles próprios poderem entrar logo após a saída e roubar. Mas não acreditou. Embrulhou-o e escondeu no sótão.

Olhei para o quadro mais uma vez e comecei a contemplá-lo no silêncio que se enchia do medo e angústias, porque esse quadro transmitia todas as emoções negativas daquele tempo. Senti-me culpável por algo de que não tive culpa nenhuma. Senti-me conquistadora ainda que não houvesse nenhuma razão por isso. E, por fim, senti-me agressora. Neste silêncio que gritava as dores e todas as injustiças do mundo, neste silêncio que se ria histericamente a contar as histórias do Inferno, não era eu a olhar para o quadro, mas era o quadro a olhar para mim e a formular suas mudas acusações. Porque uma coisa que para mim não tinha valor nenhum, era para alguém algo tão precioso, que até a embrulhou e escondeu, ainda que nunca mais a visse.

Não sei que emoções suscitou o quadro nas minhas avós. Elas nunca o tinham pendurado na parede, em vez disso o deixaram embrulhado, talvez à espera do seu proprietário. A minha mãe, no entanto, mandou-o enquadrar de novo e pendurou-o na parede num quarto pequeno e pouco frequentado. Se um dia o seu proprietário legítimo aparecer na nossa casa e perguntar por ele, podemos restituí-lho com a consciência limpa, porque o termos mantido em boa condição. Porém, se um dia alguém entrar bruscamente na nossa casa e nos mandar de sair, não teremos tempo de tratar dele. Não teremos tempo para o embrulhar e esconder. Ficará na parede, silencioso e indiferente testemunha da Apocalípse, à espera de novos habitantes.